O problema não é a experiência da perda. Perder faz parte da vida. O problema é perder a capacidade de experimentar. Disso não podemos.
O problema é confundir impotência com impossibilidade. Impossível sempre será. Ninguém jamais será cem por cento feliz. Não existe o amor que gostaríamos.
No entanto, não podemos perder o poder que nos foi dado de sempre buscar a felicidade e o amor que desejamos.
Não existe limites para a experiência. Podemos uma infinidade de coisas. Podemos experimentar tudo enquanto estivermos vivos.
Não entendo as pessoas depressivas, ansiosas, angustiadas, tristes e melancólicas. Há um mundo de coisas para se degustar, cheirar, saborear, sentir, olhar, contemplar e admirar.
Temos um corpo. Estamos no espaço e no tempo. Podemos movimentar, falar, gesticular, ouvir e ver. Podemos alterar o que não está bom. Podemos sair de perto, andar, passear, viajar, abrir janelas e portas, receber pessoas, conversar, cantar, dançar, beijar e namorar.
Experimentar a perda é normal. Anormal é perder a vontade de experimentar. É óbvio que não experimentar não deixa de ser uma forma de estar experimentando. Ou seja, já é uma experiência experimentar o nada.
No entanto, se ficar no vazio for uma experiência de felicidade – como fazem os orientais – aí está valendo. Só não vale se for uma experiência mórbida. Se assim for, por favor, atente-se para o seu entorno. O mundo pode não ser perfeito. Mas quem disse que ele é imperfeito?
Evaristo Magalhães – Psicanalista