Lacan diz que ao me comunicar recebo de volta do outro a minha própria mensagem de forma invertida, isto é, verdadeira.
Isso quer dizer que quando amo muito, a tendência é que o outro me ame de menos – como uma forma de defesa sua ao meu sufocamento.
Somos antagônicos. Dependendo da força que usarmos a favor de uma bandeira qualquer, seguramente, acenderemos – no mínimo com a mesma intensidade – a força contrária à ela.
Por mais que queiramos, nunca vai existir o amor que gostaríamos. Como não existe medida para o amor, as pessoas ficarão o tempo todo com o pé atrás receosas da configuração agressiva que nosso amor poderá vir a tomar.
Tudo pode ser uma coisa ou outra. A questão é que só queremos uma coisa e jogamos a outra para debaixo do tapete. Doce ilusão! Essa coisa que queremos não existe sem essa que queremos ver longe. O lado avesso vai se formando no mesmo instante em que decidimos querer o lado direito.
Os opostos não se fundem porque existe uma lacuna instransponível entre eles. O problema é que não conseguimos habitar essa lacuna. Ou seja, só queremos o lado bom da vida. Só o lado bom não existe.
Desse modo, na vida, temos dois caminhos: habitamos essa lacuna e temos alguma paz na convivência das diferenças ou viveremos uma eterna guerra contra o que carregamos – e não admitimos em nós mesmos.