Sofremos porque separamos tudo. Não é a vida e depois a morte. Não é o silêncio e depois o som. Não é o escuro e depois o claro.
Não é uma coisa e outra. É tudo dentro de uma mesma coisa – e sem lacunas. São duas palavras opostas dentro de uma mesma palavra – e sem diferenciação.
Infelizmente, não temos uma palavra que traga o contraditório sem tomá-lo como contraditório. Ou seja, não temos uma palavra que tome os antagonismos como parte de uma mesma célula.
Se observarmos atentamente veremos que todo amor é, em alguma medida, ódio e que toda generosidade é, também, egoísmo.
Tudo é uma coisa só: vida/morte, som/silêncio e claro/escuro.
A questão é como acessar esse mórbido, estranho e escuro. Nada sabemos disso.
Tudo traz o seu inacessível – e isso nos perturba exatamente porque achamos que o que acessamos basta para explicar o que existe. Não basta!
Não preciso que ninguém me contradiga: carrego em mim minha própria contradição. Crio o que me opõe no exato instante em que me coloco.
O que não sou não está fora de mim. Não preciso de um agente externo para me destruir. Trago a minha própria destruição.
O que falta não pode ser preenchido. O que falta é impossível. Somos esse impossível. Em tudo o trazemos.
Acabaríamos com toda a arrogância do mundo se enxergássemos tudo a partir do impossível de tudo.