Por que, quando amamos, não paramos de pensar no outro? Porque o pensamento é um recurso que a humanidade inventou para fugir de sua des-humanidade. Usamos o amor como uma espécie de tampão para as nossas agruras existenciais.
Não é por amor que pensamos no outro o tempo todo. É em nós que pensamos– através dele. Esse é o típico amor narcisista. Usamos o amor como uma espécie de antidepressivo de nossas próprias depressões.
É por isso que os amantes sofrem quando perdem.
Não deveríamos começar um amor usando-o como preenchimento de quem não somos. Nada nos preenche. Além disso, ninguém é de ninguém, ninguém é uma extensão nossa e ninguém está grudado em nós.
Esse outro – que usamos para suprimir nossas carências – é muito mais uma invenção nossa que um dado de realidade.
Não é possível saber tudo do outro. Seremos esquecidos no exato ponto em que o outro não encaixar mais no pensamento que inventamos sobre ele.
Pensamos no outro para fazê-lo nosso – tanto que revoltamos quando ele nos apresenta algo seu que desconhecíamos.
Pensar sobre o outro é um modo de criar uma espécie de norma para manter um certo controle sobre ele.
Não temos que pensar no outro. Amamos – exatamente – quando o esquecemos. Por que? Se dermos conta de amar quem somos sem o outro – certamente – estaremos livres e leves para receber seu amor apenas quando ele quiser nos amar.