Há algo de muito engraçado quando alguém é chamado de mito, quando constitui uma família, usa maquiagem, fica compulsivo por academia ou por cirurgias plásticas.
A questão é que não queremos ver a vida como ela é. É por isso que tomamos as performances como sendo verdades.
Aliás, mitificamos, admiramos e idealizamos certas pessoas porque – para não enlouquecermos – precisamos criar um teatro como um véu sobre a vida real.
Tudo é aparência. Tudo é performance. Tudo é representação: ir para o trabalho, namorar, encontrar os amigos e cuidar de si.
Há algo de muito cômico por detrás do que tomamos como sendo a realidade da vida.
Não podemos coisificar a realidade. Não podemos materializar a vida – sob o risco de não vivermos.
A questão é quando de repente irrompe o que não queremos ver: irrompe o trágico. Mas, logo voltamos com a comédia. Sem poder rir muito dela, é claro!
Evaristo Magalhães – Psicanalista