Não tenho que buscar uma beleza para fugir da minha feiúra: minha feiúra jamais será derrotada. Tenho que buscar uma beleza que seja parceira da minha feiúra.
Não somos uma coisa suplantando a outra. Somos uma coisa e outra. Isso que nos é diferente jamais será engolido pelo que quer que seja.
Talvez nosso maior problema seja reconhecer que somos várias contradições em um mesmo ser.
Então, o certo não seria a vida temer a morte. O certo seria a morte caminhar com a vida, a velhice caminhar com a juventude e a feiúra com a beleza.
Não deveríamos focar em um lado e abominar o outro. A mesma intimidade que temos com o que gostamos deveríamos ter com o que não gostamos.
Ao olharmos no espelho só queremos ver vida, juventude e beleza. É por isso que tantos estão depressivos ou em pânico. Quem dera se fôssemos capazes de eliminar nossas verdades?!
Tudo o que não queremos ver ou saber é tão real quanto o que queremos ver e saber.
Aliás, acho que a morte, a velhice e a feiúra existem – exatamente – para quebrar nossas arrogâncias de fonte da juventude e de vida eterna.
Nesse sentido, não seria o fato de que vamos morrer e envelhecer que nos daria a dosagem certa para vivermos de forma equilibrada?
Penso que viver seria catastrófico se pudéssemos ser somente o que gostaríamos!
Evaristo Magalhães – Psicanalista