Não acredito em regressão. Não acredito em inconsciente. Não acredito em personalidade e não acredito em mente.
Acredito que somos seres de palavra. Por isso, só temos duas alternativas: ou falamos e humanizamos ou não falamos e desumanizamos.
Entendo que sofremos não por traumas ou recalques.
Nossa dor de viver é sem causa.
Sofremos, porque nos faltam palavras. Falar é existir. O amor é discurso e a política é a arte de convencer. Chorar, revoltar e agredir são formas desesperadas de dizer para não fazer o pior.
Falamos porque, do contrário, inexistimos para nós mesmos e para o outro.
Deitamos no divã porque não estamos sabendo falar para nós mesmos e para o mundo.
Não é à toa que os psicanalistas silenciam para que falemos.
Repetimos para sermos compreendidos.
Toda felicidade advém da confirmação do outro sobre o que estamos fazendo de nós mesmos.
Não é o objeto-espelho que me confirma. É muito bom quando o outro balança a cabeça concordando conosco.
Quando dizemos que estamos tristes, não é porque não nos assumimos em nossa essência ou porque sofremos traumas em nossa infância.
A tristeza é uma narrativa que pode ser aceita ou não.
Psicanálise não é investigação. Nossa dor é sem objeto. Não há nada por detrás.
A cultura nos oferece um arsenal infinito de palavras. Mesmo assim, não há palavras para tudo.
Falar é criar jogos de espelhos. Ninguém tem a última palavra de nada.
No entanto, só nos resta tagarelar. Caso contrário, tornamo-nos invisíveis – e é este o nosso maior desespero!
Evaristo Magalhães – Psicanalista