Acho uma ingenuidade pensar que o que penso de mim é o mesmo que as pessoas pensam.
Ou seja, é uma inocência pensar que as pessoas me acham bonito tanto quanto eu me acho.
Não existe essa consonância entre o que penso que sou e o que as pessoas pensam de mim. Por que?
A vida não faria sentido se fôssemos todos espelhos uns dos outros.
É por isso que pessoas se odeiam ou brigam entre si. Carregamos essa ilusão de que somos amados como gostaríamos. Como isto não existe, partimos para ignorância quando a diferença vem à tona.
Só sabemos do amor. Não fomos educados para o desamor.
No fundo, não queremos é saber a verdade quando alimentamos a crença de que a vida é só sincronia.
Somos contraditórios. Somos juventude e velhice, vida e morte, perdas e ganhos.
É contra as perdas que não suportamos, que reagimos com hostilidade quando alguém diz o que não esperaríamos ouvir.
Viver a diferença é de fundamental importância: serve para o nosso crescimento e serve como catarse para a agressividade daquilo que nada e nem ninguém pode resolver por nós.
Qual importância dessa agressividade que carregamos e é sem solução? Ela quebra a nossa arrogância, nosso narcisismo e cobra a nossa humildade.
O mundo permanecerá um inferno enquanto não nos admitirmos finitos.
Evaristo Magalhães – Psicanalista