Resistir é não repetir. Resistimos porque blefamos.
Como resistir quando tudo evaporou?
A resistência é subjetiva. É quando é chegada a hora de se voltar para o próprio eu. Não para repetir, mas para se reinventar.
Resistir é arte. É criar novas identificações. É não voltar o eu para o passado.
A resistência não é linear, reta, direta, contínua, regular. A resistência é aspiral. É a capacidade que temos de criar para os lados, para cima, para baixo, para dentro e para fora. Ela aponta para a nossa infinita potência.
A mais difícil das resistências é resistir ao mesmo.
A verdadeira resistência é aquela que surge no limite, no fim, no obscuro e no vácuo.
Não deveríamos retomar as velhas ideologias, os velhos pensamentos e as velhas crenças. Se assim o fizermos é seguro que iremos – novamente – à bancarrota. Aí já não é mais resistência e, sim, masoquismo.
Resistimos não apenas ao outro que nos oprime. Precisamos resistir a nós mesmos e a tentação que temos de fazer voltar velhas doutrinas.
Resistir não é agir com paixão. Resistir é elaborar o luto da perda e se reinventar a partir dela.
O opressor só será derrotado quando o pegarmos com armas novas.
Não saímos vitoriosos porque tememos perder e porque gostamos do já pronto. Perdemos por apego às mesmas armas de sempre.
Em nossas próximas ações deveria ser proibido repetir o mesmo discurso, o mesmo jargão, a mesma fala, a mesma ideia e as mesmas palavras de ordem.
Precisamos experimentar a angústia do tudo perdido. Precisamos roer o osso das utopias e das teorias ultrapassadas. Precisamos aprender a triturar o nada.
Evaristo Magalhães – Psicanalista