Somos traumatizados porque falamos. À medida que criamos a palavra “bonito”, criamos um trauma com a palavra “feio”. Do mesmo modo quando inventamos a palavra “jovem”, inventamos o pânico da velhice.
Jamais veremos um animal triste diante do espelho porque não gosta do seu nariz ou da sua bunda.
Inventamos nossos traumas, angústias e depressões. Se não pensássemos, não saberíamos.
A questão não é nem pensar. A questão é a pretensão de querer eliminar os opostos. A questão é o desejo de querer ser só bonito ou só jovem a vida toda.
Não sabemos o que fazer com o outro lado a não ser lutar contra ou fugir. Não sabemos trazer junto o indissociável.
A vida até nos dá um certo tempo para entendermos quando demora a nos dar sinais de que estamos perdendo o que julgamos como belo e jovem em nós.
No entanto, seguimos negando a verdade. Seguimos na ilusão de que seremos ser salvos pela medicina ou por algum milagre divino.
Enquanto nada disso acontece, assistimos à toda forma de compulsão, dor e sofrimento pela arrogância de querer vencer o invencível.
Evaristo Magalhães – Psicanalista