O ciumento quer o outro para suprir o que lhe falta.
O ciúme está relacionado com o trágico da vida. O outro entra como suporte disso.
O ciumento está fora do registro do saudável. Ele está na dimensão da alucinação – porque ninguém pode suprimir o que não somos.
O ciúme surge para tamponar o que é do existir do ciumento – e que ele não dá conta por si.
Na verdade, o ciumento não quer amar. Ele quer possuir o outro porque entende que só assim ele estará seguro de si.
O ciumento quer reduzir tudo do outro ao seu UM. Ele não suporta o diverso: qualquer ausência não é ausência do outro. É ausência de si.
Não é o outro-humano que o ciumento ama. Ele ama um outro-endeusado. Ele está certo de que o outro pode salvá-lo de sua tragédia existencial.
O ciumento não está preocupado em compartilhar. Ele só pensa no que lhe falta. Ele quer o outro para tamponar o que ele não tem por si.
O ciumento passa todo o tempo no outro porque enlouqueceria se tivesse que passar todo o tempo consigo.
O amor ciumento está para além do bom senso – tanto que quer dominar todo espaço e todo o tempo do outro – condições impossíveis de serem dominadas.
O ciumento está fora da dita normalidade. Ele não aceita despedidas, não aceita que o outro tenha lugares e projetos que não seja os seus.,
O ciúme é a vontade louca de recriar – aqui fora e a qualquer custo – uma espécie de útero materno com alguém.
Evaristo Magalhães – Psicanalista