Não sobrevivo sem, ao menos, um outro para me dizer que meu sentido faz algum sentido.
É de fundamental importância, para a nossa saúde mental, que sejamos escutados.
Não falamos só com a boca. Falamos com o corpo, com nossos afetos e com toda a alma que somos.
Bolsonaro diz que o meu sentido não faz o menor sentido. Ele faz mais que isso: diz que o que penso precisa ser perseguido e extirpado.
Nada é mais desesperador do que ser impedido de manifestar as próprias ideias.
Bolsonaro está tripudiando não apenas dos nossos direitos, das nossas riquezas naturais e da dignidade dos brasileiros mais vulneráveis. Ele está tripudiando é da nossa existência.
Destituir alguém de dizer o que pensa, fazer chacota de suas ideias ou agir como se o seu sentido não tivesse o menor sentido, é jogá-lo na mais profunda melancolia. É o que Bolsonaro vem fazendo. Ele está nos destruindo de dentro para fora. Ele está quebrando nossos espelhos e detonando com nossas identidades.
Sem sentido, enlouquecemos. Sem sentido, não faz o menor sentido viver.
Para nos recuperarmos por fora, precisamos, primeiro, juntar os cacos do que ainda resta de nós por dentro. Para tanto, precisamos de encontros. Não de encontros virtuais – estes são por demais fragmentados. Mas, de encontros reais: rodas de conversa, debates e palestras.
Só reagruparemos nossos cacos sistematizando – novamente – quem somos. Só reergueremos quem somos reorganizando nosso pensamento.
Nesta perspectiva, precisamos do outro. É só através dele que reaprenderemos que faz algum sentido continuar resistindo.
Evaristo Magalhães – Psicanalista