Somos angústia porque vamos envelhecer e vamos morrer. Quem não gostaria de ser eterno?
O nada nos constitui – no sentido de que dele não podemos nos livrar. O máximo que podemos é tentar é cerzir algo sobre ele.
Durante muitos séculos, a ciência, a cultura nos ofereceu a palavra como caminho para cobrirmos nossos dramas existenciais. Tanto que parece que já nascemos indo para a escola – e lá quase só aprendemos palavras.
Acontece que a palavra não é o sentimento. Do mesmo modo que a palavra “água” não é o objeto ”água”.
Nesse sentido, apenas falar não cura nossas angústias. Precisamos inventar outras saídas – sob o risco de enlouquecermos.
Gosto muito de música. Ultimamente, tenho escutado só canções que me dão prazer.
Ouço sem me ocupar com o sentido do som ou das palavras. É como se eu quisesse a “água” e não mais a palavra “água”.
Busco o prazer que determinada sonoridade me provoca – e sem qualquer problematização.
Busco só melodias que me fazem bem – porque há músicas que me fazem querer cortar os pulsos. Daí, viajo e me entrego. Escuto a mesma canção varias vezes – até esgotar todo o gozo que dela posso extrair.
O mundo não é só esse blábláblá sem fim. Há outros belezas para além de só pensar.
Tem muita gente criando outros dizeres – possivelmente – para suturar suas angústias.
A própria natureza nos oferece – e de graça – fluxos contínuos de imagens, barulhos, sabores e texturas que nos compensam deste vazio perturbador de que somos constituídos.
Basta atentarmos. É só ampliarmos nossos horizontes.
Há muito mais para além do pensar e do falar!
Evaristo Magalhães – Psicanalista