Podemos – e devemos – combater o frio, a fome, a violência, as injustiças sociais e a ignorância.
Não podemos é combater quem somos. Infelizmente, confundimos a nossa sobrevivência física com a nossa existência.
Quanto ao corpo, necessitamos – sim – de agasalho, alimento e tratamento para as nossas doenças. Quanto à alma, não adianta combater.
A sociedade de consumo, depois de nos tirar a autonomia sobre a produção de nossa própria sobrevivência, resolveu lucrar nos iludindo com objetos que supostamente – resolveriam nossos dilemas existenciais. Tanto isto é verdade que a maioria das propagandas associam seus produtos com pessoas como se todos os problemas da vida estivessem resolvidos.
A vida não se reduz a ir ao mercado, a ter um corpo bonito e a ter muito dinheiro.
Nossa sociedade não nos permite vivenciar a verdade que somos. Ela nos entope com produtos de toda ordem. É por isso – talvez – que estejamos vivendo uma epidemia de depressão. Nenhum produto supre quem somos. Nenhuma rede social cura nossas angústias.
Quem somos? Somos o infinito. Não sabemos de onde viemos e nem para onde vamos. Ninguém tem a última palavra para quem somos.
Portanto, nada que nos é exterior pode suprimir o que somos em nosso interior. Ninguém pode inventar quem somos: isto é de cada um. Desse modo, é revolucionário ser quem se é – porque coloca o capitalismo no lugar de onde ela nunca deveria ter saído.
Evaristo Magalhães – Psicanalista