Sabemos – muito bem – o que fazer com o lado bom da vida.
Adoramos quando tudo acontece como gostaríamos.
A questão é que somos – também – o que não gostamos.
Não damos conta de assumir as consequências disso – que somos – e jogamos para debaixo do tapete.
Não sabemos fazer bem feito com o que – na verdade – somos.
Nosso maior desafio não é apenas saber parar no sinal vermelho.
Nosso maior desafio é saber lidar com isto que nos aparece e que – tanto – nos perturba.
Muitos não sabem o que fazer com o desamor. Quantos não se matam por isso?!
Muitos não sabem o que fazer com o envelhecimento. Quantos bizarros por compulsão por cirurgias plásticas?!
Muitos não sabem o que fazer com o vazio. Quantos obesos extremos?
Muitos não sabem o que fazer com a sexualidade. Quantos homofóbicos?
A ética deveria começar, primeiro, por mim. Não posso lidar com o que não sei projetando nos outros minhas frustrações pessoais.
Não posso permitir que minhas ansiedades e angústias interfiram em meu trabalho e em meus amores.
Não posso me auto-exterminar como uma forma de me punir pelo que sinto e não gosto em mim.
Primeiro ser ético comigo. Depois, com o outro.
Falta-nos coragem para perguntar o que estamos levando de nós mesmos para nossos corpos, nossos familiares, amigos, amores e colegas de trabalho.
É ótimo buscar uma sociedade melhor. Difícil é se dar conta de que essa sociedade começa a partir relação que estabeleço comigo mesmo.
Como querer viver melhor quando estou para o mundo sendo o pior comigo mesmo?
Evaristo Magalhães – Psicanalista