Não entendo porque aprendemos que o escuro é pior que o claro, que o cinza não é tão bonito quanto o azul, que o cheio satisfaz mais que o vazio, que a presença conforta mais que a ausência e que a voz preenche mais que o silêncio.
Quem disse que o escuro é pior que o claro? Com base em que inventaram que o cinza é triste e que o preto é luto?
Penso que a depressão resulta do modo como julgamos nossas vidas.
Inventamos a ilusão de que a vida boa tem cor, corpo, som, cheiro, imagem, luz, gosto, tamanho, peso e altura. Não tem!
Não podemos purificar a felicidade. Não temos poder de prever nem para daqui a pouco. Não podemos gostar só disso ou só daquilo. Não podemos amar a presença e odiar a ausência. Quem sabe do amanhã? Ninguém.
A vida é fluxo. A vida contraditória, contingente e imprevisível.
Nada do que sentimos deveria ser feio ou bonito, triste ou alegre, certo ou errado, verdadeiro ou falso.
Tudo nosso deveria ser tomado como parte de quem somos e do que somos compostos.
Não sabemos do que virá. E se vier é porque é nosso. E se é nosso é porque faz parte da nossa humanidade. E se é humano é pra ser vivido com toda a humildade possível – sem angústia ou desespero!
Evaristo Magalhães – Psicanalista