Não há dúvida de que é uma maravilha a prosperidade econômica. Quem não gosta de ver shoppings lotados e rodovias abarrotadas de carros nos feriados prolongados?
No entanto, não somos só o que consumimos.
Somos seres de linguagem e tudo que acumulamos – na vida real – está relacionado com o que não damos conta na vida existencial.
A ação começa onde termina a palavra.
Queremos um sentido. Tentamos pela filosofia, pela ciência e pela religião. Contudo, nenhuma ainda deu conta de quem somos.
O capitalismo chegou com a promessa de suprimir nossas angústias pelo consumo.
Porém, existe depressão e suicídio mesmo nas sociedades mais abastadas. É óbvio que não estou querendo dizer com isso que o dinheiro não seja importante.
O consumismo é uma ficção e a droga é uma ilusão. É por isso que antidepressivos e ansiolíticos causam dependência. Estes medicamentos tentam resolver no químico um problema que é da ordem das palavras.
Não existe qualquer relação entre Rivotril e sentido na vida. Quando falta palavra – vem a angústia e o desespero.
A questão é que esperamos – de fora – a solução para um problema que é só nosso. Tudo isso começou com nossas mamães nos acalentando quando chorávamos por pânico do mundo. No entanto, nem mesmo as mamães sabem tudo de si.
Enfim, vivemos a fantasia de que podemos ser salvos pelo ter. Doce ilusão!
Para a nossa salvação temos que virar criadores de palavras. Temos que inventar nossas próprias falas sobre nós mesmos.
Isso que buscamos no mercado somos nós mesmos. Cabe a cada um se reinventar em seu próprio vazio quando blefa o shopping, a ciência, a religião e a filosofia.
Evaristo Magalhães – Psicanalista