Saber de si não é fazer um retrospecto da sua história de vida. Não é fazer uma regressão de si e de seus familiares. Não é procurar um objeto, um fato, uma situação, uma pessoa, um acidente ou um trauma que te explique.
Saber de si é ir de encontro ao depois de si mesmo. É ir de encontro ao que não se sabe de si.
Não somos a história de nossas vidas. Não somos as palavras, os conceitos, as teorias, as crenças, os sentimentos, as imagens e os fatos que usamos para nos descrever. Não somos as pessoas que atravessaram, que atravessam e que atravessarão o nosso caminho.
As histórias a gente esquece. Nunca nos descrevemos da mesma maneira. As pessoas não são as mesmas o tempo todo.
Ou seja, tudo o que compõe o meu eu – memória, ideias, pessoas e coisas – não sou eu.
Só saberei de mim quando eu me der conta desse meu eu que está depois do que sei mim.
Sou meus atos falhos, meus lapsos e meus esquecimentos. Sou o silêncio dos buracos de cada letra que uso para me definir.
Na verdade, saber de si é admitir não saber de si. É admitir tudo o que se sabe de si como sendo uma ficção – quiça – uma mentira de si. Saber de si é saber se carregar pela vida como uma coisa entranha – e sem enlouquecer por isso.
É por isso que entramos em pânico quando o que sabemos de nós não nos compreende.
Entramos em pânico porque achamos que o que temos é suficiente para nos conter. Nada nos contém. Sobramos e temos que dar conta de amar isso que sobra em nós.
Evaristo Magalhães – Psicanalista