Psiquiatra é médico. As pessoas, de modo geral, procuram um psiquiatra porque estão tristes, deprimidas ou melancólicas. Elas acreditam que o uso de um determinado medicamento poderá trazê-las de volta de suas tristezas para as suas alegrias.
É mais ou menos como as pessoas que vão assistir a uma comédia, sair para dançar, fazer uma viagem ou praticar uma atividade física. Ou seja, as pessoas acreditam que é possível passar de um estado triste para um estado alegre.
É como se o psiquiatra tivesse o poder de fazer uma depuração de todos os nossos sentimentos negativos. É quase como um teatro onde o herói passa da dor ao prazer.
Na verdade, viver é meio que representar. Todos queremos ser como o herói: forte, atraente e bem-resolvido.
Não gostamos de quem – de fato – somos.
A psicanálise existe para nos dizer que a saída não é pela medicação.
A psicanálise começa onde termina os remédios.
Não tenho dúvida que tanto a psiquiatria quanto as artes surgiram do encontro dos médicos e dos artistas com a verdade – nua e crua – da vida.
A questão é quando passaram a vender ansiolíticos e antidepressivos como formas únicas de desencadeamento da alegria de viver ou de cura das agruras da vida.
A psicanálise nos traz de volta para o osso da verdade de nossas vidas. O psicanalista quer que comecemos do ponto onde a psiquiatria blefa. O psicanalista quer fazer avançar os sentidos de viver a partir do que cada indivíduo fará depois de deitar, levantar do divã e retornar para a vida.
A psicanálise está depois de tudo que achamos que sabemos sobre nós mesmos.
Evaristo Magalhães – Psicanalista