A vida tem tantas cores, sabores, sons, formas, pesos, tamanhos, espessuras, palavras, conceitos, teorias, doutrinas e ideologias.
O mundo tem tanta vida, tantos caminhos e infinitas possibilidades de pensar e sentir.
Mas a vida é, também, angústia. Jamais conheceremos todas as cores, sons e sabores. Jamais experimentaremos todas as formas, pesos, tamanhos e espessuras.
Infelizmente, tudo que é bom de comer, ver, ouvir e tocar é, também, angustiante de comer, ver, ouvir e tocar.
É muito bom apreender um conceito, dominar uma teoria, questionar uma doutrina e escolher uma ideologia. No entanto, começamos a sofrer no exato momento em que saboreamos algo, que escutamos uma boa música e quando vemos e tocamos algo que nos impacta positivamente.
Por que sofremos? Porque não existe a cor da cor, o som do som, a forma da forma, o peso do peso, o tamanho do tamanho e a espessura da espessura. Não existe a palavra da palavra, o conceito do conceito, a teoria da teoria, a doutrina da doutrina ou a ideologia da ideologia.
Nada é definitivo em nossos corpos e mentes. Por isso, angustiamos porque queremos uma perfeição que nunca é.
É possível viver para além das delícias e das perturbações? É possível transcender o mundo das abstrações e das concretudes? Há outro mundo depois dos sentidos e do intelecto? Sim.
Ocorre que este mundo é totalmente sem cor, sabor, forma, peso, tamanho e espessura. Nele, não existe palavra, conceito, teoria, doutrina ou ideologia. É um mundo vazio.
Por que não adentramos nele? Porque ele cessa nossos sentidos e silencia nossas mentes. Somos arrogantes e materialistas demais.
Há outro mundo sem angústia e sem ansiedade? Sim. Estou falando de um mundo mudo, sem antes e nem depois e sem causa e sem consequência. Estou falando do mundo das coisas eternas. Nele, nada saboreamos, escutamos, tocamos e abstraímos. No entanto, nele, nada ansiamos e nada angustiamos.
Devemos, então, sair correndo para este mundo? Não. Necessitamos cuidar da sociedade em que vivemos . Precisamos garantir nossa sobrevivência e negociar nossas diferenças com o outro.
No entanto, sabemos que nosso físico é infinito e que jamais chegaremos a um consenso quanto aos nossos dilemas pessoais e coletivos.
É por isso que em meio a tudo isso, precisamos experienciar – também – momentos de calmaria. Isto, não encontraremos na matéria.
É preciso transcender tudo e adentrar o nada. É só lá que experimentares o que é viver verdadeiramente em paz!
Evaristo Magalhães – Psicanalista