Ninguém nos tem. Nunca estamos nas mãos de ninguém. A culpa não é do outro. A culpa é nossa. Nós é que nos damos demais.
Adiantamos demais ao querer do outro. Sufocamos o seu querer por nós. Na ânsia de agradar, seduzir e conquistar, acabamos é afastando as pessoas.
Lacan diz que amar é dar o que não se tem. Só é amor quando fazemos algum sentido para alguém. A questão é que não podemos querer criar este sentido no outro. Não podemos achar que somos o sentido da vida de ninguém. Não temos que achar que somos imprescindíveis para quem quer que seja.
A falta não é minha. A falta é do outro. Ele é que precisa ver em mim algo que faça algum sentido para ele. E para isto acontecer, é necessário que eu seja muito bem resolvido comigo mesmo. É necessário que eu seja o máximo de espontaneidade para com ele. Se eu forçar, a falta deixa de ser dele e passa a ser só minha.
Portanto, cuide da sua falta. Não permita que a sua carência sufoque a possibilidade de o outro desenvolver alguma carência por você.
Se ele não vier, é porque você não fez nenhum sentido para a falta dele. Se você for atrás com presentes e promessas de amor, significa que você está forçando ser a falta dele. É por isso que todo amor não correspondido termina em ódio e revolta.
Neste contexto, a culpa nunca é do outro. A culpa é sempre sua que estragou tudo tentando ser para o outro algo que é impossível que qualquer pessoa faça isso por ele. Para amar de verdade, cuide primeiro da sua solidão.
Evaristo Magalhães – Psicanalista