Só gosto de olhos abertos para o nada. Olhos perdidos, contemplativos, vazios e largados.
O olhar atento é a porta de entrada para a angústia e ansiedade.
Estou falando de um olhar que procura. De um olhar afoito, tenso, fissurado é carente.
Não existe isto de olhar. Há infinitas paisagens.
Todo olhar carrega o prazer do encontro e a dor da possibilidade desse encontro terminar ali.
Por isso, não deveríamos olhar procurando. Não deveríamos olhar desejando. Não encontraremos o que buscamos pelo olhar.
Tocar é uma delicia. A questão é que não só tocamos. Temos mania de nomear o que tocamos. Ao nomear, me dou conta do infinito: tudo poderia ter outro nome.
Os animais não nomeiam: vivem no imediato, no aqui e o agora, no tempo presente.
Os animais não memorizam. Por isso, não fazem comparações e não sofrem de ansiedade ou de angústia.
Não deveríamos olhar ansiando .
Pelo olhar é possível deduzir o estado psicológico de alguém. Concordo quando dizem que o olhar é a porta de entrada para a alma. Tudo começa pelo olhar.
A culpa está no olhar. Se não olhássemos, não sofreríamos caso não encontrássemos.
O melhor é olhar sem afeto. Olhar de forma – totalmente – despropositada.
Se neste olhar – totalmente solto – algum olhar pulsar por você, caberá somente a você desviar ou focar todo o seu viver – a partir desta janela que este outro olhar abriu para o seu desejo.
Evaristo Magalhães – Psicanalista