Ninguém vai ao psicanalista para saber sobre si. Ninguém deita no divã para fantasiar a vida, descobrir a verdade, aprender a amar e a ser feliz.
Consultório de psicanálise não é livro de autoajuda.
Achamos que a felicidade faz sentido – tanto que estamos sempre apostos para explicar a infelicidade alheia. Achamos que temos a fórmula da boa vida.
Psicanálise não é saber, imaginação ou explicação. Aliás, procuramos um psicanalista exatamente para implodirmos uma a uma das nossas supostas verdades e chegarmos ao verdadeiro osso da vida.
A verdade da vida é o silêncio. É por isso que os psicanalistas quase não falam.
A vida não tem verdade – ao menos verdade no sentido desse nosso falatório sem fim. Isto é ruim? Não?
Descobrir que a vida é sem verdade nos faz usufruir dela de um modo completamente novo.
Antes, estávamos na falação tentando encontrar uma verdade que não se capta pela palavra. Por isso, vivíamos angustiados e ansiosos.
Agora, abraçamos o sem-sentido – e que é muito mais prazeroso que ficar angustiado tentando encontrar um sentido. Esquecer o sentido é se entregar ao fluir as ondas, contemplar os sons, os tons, as cores, os tamanhos, as formas, gestos, cheiros, gostos e os sabores de existir.
Não mais ficamos angustiados procurando pelo discurso do discurso, pelo gesto do gesto, pelo movimento perfeito, pelo cheiro, gosto ou sabor ideal.
Não existe a última palavra. Não existe a perfeição. Existe a fluência, a imprevisibilidade e os opostos.
Aproveite tudo. Não queira descobrir e não queira saber. Apenas viva!
Evaristo Magalhães – Psicanalista