Tudo o que dizemos não é verdade. No entanto, precisamos pensar que é porque, caso contrário, enlouqueceríamos.
Socialmente temos uma exigência para acreditar que seja verdade: não posso chamar ventilador de repolho. Cientificamente temos uma preocupação de acreditar que existe alguma lógica: não posso escrever fora de certos padrões estabelecidos.
A questão é que não somos só ciência e só sociedade. Somos sujeitos e carregamos algo que nenhum conhecimento pode fazer qualquer coisa por nós.
Somos sem verdade.
A mentira pode ser verdade exatamente no ponto em que nada e nem ninguém pode nos salvar: temos que mentir ao menos para nós mesmos. O que quer que venhamos a produzir aí estará valendo – com a condição de que não nos façamos mal.
Tudo não existe. Se assim fosse, ninguém sofreria.
Infelizmente, a imposição da verdade é maléfica. É porque somos obrigados à verdade, que muitos não dão conta de prosseguir quando descobrem que esta mesma verdade não é assim tão verdadeira.
Quem tem pretensão à verdade, na verdade, não suporta haver-se com seu lado obscuro e precisa impor a sua verdade para não fazer o pior.
Todo arrogante é um covarde de seus enigmas – daí o seu desespero em afirmar sua verdade o tempo todo. A necessidade de se impor funciona como um modo de camuflar em si o insuportável que o outro deixa transparecer.
Para viver bem é preciso – também – saber mentir. Na impossibilidade da verdade, pode surtar aquele que não deu conta de mentir para si.
Evaristo Magalhães – Psicanalista