Amar não é só ouvir, conversar ou discutir a relação.
Nossos olhos estão, sobremaneira, voltados apenas para o que nossos amores dizem.
Amar não é só olho no olho.
Não há dúvida de que olhar é fundamental.No entanto, nossos olhos estão muito mais interessados no que sai da boca do outro do que nas suas demais belezas.
O olho não deveria servir só pra atentar-se ao que o outro diz. Há muito mais no outro para ser contemplado que suas ideias, preferências, gostos e sonhos.
Precisamos aprender a olhar o que do outro não tem boca, não fala e não pensa. Precisamos buscar o que do outro é puro silêncio.
Temos mania de achar que relacionar é só conversar. Não é. Relacionar é olhar, tocar, sentir, cheirar e beijar. A pele não tem boca. Ninguém conversa com um bum bum.
Precisamos esquecer, um pouco, a mente de quem amamos. Precisamos ampliar nosso modo de gozar com ele.
É gostoso – sim – conversar, rir e até chorar junto. No entanto, pode ser tão ou mais gostoso que dialogar, beijar o mamilo, lamber a nuca e as orelhas. Pode ser delicioso observar a cor da pele, as curvas, o cheiro e os sabores.
Nossos amores são falatórios demais. Deve ser, por isso, que entendíamos tanto nossas relações. Reduzimos o outro à quase só uma boca que fala.
Não silenciamos para contemplar. Não observamos os poros, pelos, marcas, pintinhas e dobrinhas. Não atentamos para os músculos, as fofuras, as maçãs e ruguinhas. Não nos interessamos para o formato das mãos, pés, joelhos, queixo, nariz, pescoço e braços.
Nossas paixões são reduzidas demais. Avaliamos nossos amores, quase sempre, só pelo que dizem. Quanta pobreza!
Há o que não fala e que pode ser muito mais interessante do que o que o outro pensa.
O corpo é muito mais gostoso que as ideias. Pensar é só um aspecto. Podemos ver muito mais. Sentir e tocar muito mais. Fora que o corpo é um infinito. Deve ser, por isso, que os amores têm durado cada vez menos tempo. Falta amar mais o que do outro nunca se esgota.
Evaristo Magalhães – Psicanalista