Achamos que na vida ter prazer é poder comprar, viajar e amar.
Achamos que ter prazer é encontrar meios de fugir da dor, da solidão, da angústia e da ansiedade.
Para a psicanálise – ter prazer – é o oposto disso. A alegria de viver não está em se entupir de coisas. A felicidade não é de fora para dentro. É o contrário.
Então, retira as compras, as viagens e as pessoas. Retira a religião, a ciência e a filosofia. Tudo isso é o grande engodo do nosso prazer de viver.
Retirado tudo isso, o que sobrou? Nada. Aí está a nossa felicidade – porque qualquer coisa que advir daí não pode ser de mais ninguém a não ser de nós mesmos.
É muito curioso que vivemos fugindo da solidão quando – na verdade – a nossa alegria de viver está toda nela.
Fisicamente, somos únicos. Ninguém sorri, gesticula ou sofre igual. No entanto – psicologicamente e intelectualmente – temos a mania de copiar quem somos.
Ninguém tem o timbre de voz igual. Porém, as pessoas têm a mania de emprestarem seus timbres – tão genuínos – para repetirem falas alheias.
A questão é quando a fala do outro não consegue suprimir nossas dores. Ficamos no vácuo. É neste momento que poderíamos inventar quem somos. Não o fazemos por julgarmos o vazio como insuportável: voltamos para as nossas máscaras de sempre.
Sou quando tudo falta. Se ainda não somos é melhor começarmos a ser. Chegará uma hora em que nada do que lançarmos mão vai dar conta de nos tirar da possibilidade de sermos nós mesmos.
Pena que poderá ser que seja tarde demais!
Evaristo Magalhães – Psicanalista