É muito bom dormir, comer, namorar e viajar.
Acho lindo ver o mar, as flores e as montanhas. Adoro sentir a terra, o ar fresco e o calor do sol.
Morrer deveria ser tão prazeroso quanto comer, dormir, namorar e viajar. Morrer deveria ser tão natural quanto sentir o mar, as flores, a terra, o ar e o calor.
A comida serve para saciar a fome. O sono serve para aliviar o cansaço. No entanto, não existe nada capaz de nos livrar da morte.
O fato é que não aceitamos que estamos morrendo e sofremos porque queremos extirpar isso de nós.
Não penso para comer ou para dormir: apenas vivo o prazer de me alimentar e de descansar. Apenas admiro o mar, as plantas, a terra, o ar e o fogo.
Desse mesmo modo, deveríamos agir para com a morte. Admirá-la com a mesma alegria de quando nos alimentamos, dormimos e contemplamos as belezas do mundo.
Mas, não foi bem assim que aprendemos.
Iludiram-nos com a fantasia de que podemos a eternidade. Daí, inventaram a ciência, a filosofia, a religião e começamos um inferno pela vida eterna.
Na luta contra a morte, estamos morrendo iludidos com a eternidade.
É seguro que o mundo seria outro se lidássemos melhor com a certeza da finitude. Seríamos menos ambiciosos, vaidosos e arrogantes.
Não tenho dúvida de que a origem de muitos dos nossos problemas está no fato de não aceitarmos que vamos morrer um dia.
Evaristo Magalhães – Psicanalista