Somos universal e particular. Universal porque somos impossíveis. Particular porque temos potência.
Não apenas vamos embora um dia. Já estamos indo à cada segundo que passa.
É da nossa natureza que estamos nos despedindo enquanto usufruímos da vida: não há o que possamos fazer quanto a isso.
Poderíamos gozar enquanto despedimos. No entanto, muitos vivem mais a despedida que o prazer da passagem.
Os psicanalistas dizem que é – também – vida quando optamos por não viver. Só não seria vida se nossa escolha resultasse na interrupção definitiva do nosso caminhar. Seria vida qualquer dor que não fosse adiantar a dor final.
A questão é que não sabemos viver na contingência. Não sabemos viver na contradição. Não sabemos lidar com opostos. Não sabemos viver na diferença. Queremos resolver e purificar. Não sabemos ir. Só queremos ficar.
Não usufruímos quando queremos eliminar a despedida. Não podemos fugir do fato de que viver é – também – dar adeus à vida. Não temos poder sobre o tempo. É certo que seremos vencidos por ele.
Não possuímos a vida. A vida nos foi dada em usufruto. Estamos só de passagem. O fato é que enquanto viajamos para o fim, podemos ir cavando – na finitude -nossos buracos de felicidade.
Morrer não deveria ser um diminutivo de viver. Morrer deveria ser um quantificador de viver – e sem jamais desistirmos de roer esse osso.
Evaristo Magalhães – Psicanalista