Deixamos de ser bichos quando decidimos viver guiados pelo pensamento e pela imaginação. Ocorre que ninguém pensa igual.
O bom de viver guiado pela linguagem é que as palavras podem ser misturadas. Novas palavras podem ser inventadas. A única exigência é que falar faça algum sentido. O sentido é a não-violência. A lógica é o bem.
Cada um pode inventar a frase que quiser. Pode imaginar o mundo que quiser para si. Pode reinventar seu próprio corpo. Pode nascer homem e se pensar mulher. Pode nascer mulher e se pensar homem. Pode se pensar vestido de mulher. Pode se imaginar virando homem.
Cada um pode viver de acordo com o que pensa e sente – apenas com a condição de que ele não coloque sua vida em risco. Apenas com a condição de que ele não prive o outro de pensar e sentir – também – como quiser.
Não somos um corpo. Temos um corpo. Nossa humanidade não é a submissão aos códigos instituídos. Não somos meros ventríloquos da tradição. A cultura não é algo avesso à mudança.
O que nos humaniza é a capacidade que temos de inventar quem somos e como quisermos. Não existe sociedade de pensamento único. Não existe coletividade de imagens estanques.
O poder até tenta se impor. Porém, por sermos humanos, inevitavelmente, romperemos todas as barreiras fazendo valer nosso modo próprio de pensar e amar. Nem que seja na clandestinidade.
Enquanto houver pensamento e imaginação haverá desejo. Não existe a última palavra. Nenhuma imagem é igual.
Desenvolvemos as palavras e criamos os desejos. O que será dos humanos? Jamais saberemos. Se hoje LGBT possui quatro letras, amanhã poderá possuir mil.
É melhor já ir se acostumando!
Evaristo Magalhães – Psicanalista