Somos dois saberes: o que podemos e o que não podemos.
Quase sempre os confundimos. Achamos que não-poder é poder. Não aceitamos que somos limitados.
No poder, superamos e vencemos. No não-poder, não há o que possamos fazer: seremos vencidos. Tentamos jogá-lo para debaixo do tapete, mas a vida se ocupa de nos trazê-lo de volta.
É por isso que angustiamos quando ele dá as caras. Nada nos livrará dele por mais que façamos plástica, acumulemos coisas e dominemos teorias.
Não sofremos por amor. Sofremos, porque a possibilidade do abandono nos remete à isso que não podemos. O ódio não é contra ninguém. O ódio é – no fundo – contra o que somos em impotência.
Queremos o que funciona. Queremos a vitória. Quando ela não vem, não é por essa derrota que ficamos revoltados.
A vida nos dá o tempo todo a oportunidade de exercitarmos a virtude da humildade. No entanto, insistimos na arrogância.
Há o que jamais mudaremos. Há o que só podemos reconhecer. Há o que só podemos tomar como sendo nosso. Quanto antes o fizermos, melhor. Quanto mais demorarmos, mais traumático será. Quanto antes o fizermos, melhor saberemos o que pode ser feito. Quanto antes o fizermos, mais intimidade e mais tranquilidade teremos com isso.
Não admitimos nossa impotência. Porém, não temos escolha: teremos que carregá-la e ver o que faremos com ela.
Evaristo Magalhães – Psicanalista