Não tenho gostado de pensar o mundo pelo olhar dos cientistas e dos filósofos. Só me angustia querer saber a causa de tudo – no sentido de que não existe uma causa última.
Não tenho gostado do “conhece-te a ti mesmo da filosofia”. Só me torna mais ansioso essa história de querer saber quem sou – no sentido de que acabo sempre sem saber como posso ser depois de mim.
Tenho gostado de me enxergar como um ser infinito – sem antes nem depois, sem causa, sem consequência e sem qualquer forma de hierarquização.
Gosto do impossível dos poetas.
Na poesia, as coisas são como são. O poeta experimenta de tudo. Na poesia tudo passeia porque tudo pode dentro de um verso – e nela todas as contradições são possíveis.
A poesia não envereda pelo engodo de um purismo linguístico. A poesia é como a vida: cheia de ruídos, manchas, desavenças, inconstâncias e irregularidades.
Acho os poetas mais verdadeiros que os filósofos e os cientistas porque sabem carregar as incoerências da vida.
Não posso contra a finitude. Não posso contra as tristezas, as depressões e as melancolias de existir. Viver é experimentar um turbilhão de sentimentos de toda ordem. Melhor é não lutar contra.
A poesia nos faz antever o que da vida é inevitável.
Creio que se lêssemos mais poesia não precisaríamos tomar tantos antidepressivos.
Ocorre, que na vida, quanto mais tentamos fugir, mais próximo ficamos do inevitável. Não seria melhor se o levássemos junto? A poesia sabe fazer isto muito bem!
Viva a vida como ela é! Viva a poesia!
Evaristo Magalhães – Psicanalista