Preciso aprender a ficar em silêncio comigo. Não há palavra para tudo e não há objeto que tudo preencha.
No mundo das materialidades tudo me atormenta porque nunca estou satisfeito com nada e não consigo ver todos os lados ao mesmo tempo. No mundo das ciências e das religiões não consigo – sequer – prever para daqui a pouco.
Posso me silenciar dessa angústia de nunca conseguir saber mim e de nunca conseguir saber do mundo?
Ensinaram-me a temer o misterioso. Disseram-me ser loucura querer se desprender das coisas e de mim. Inventaram uma melancolia por eu querer viver do meu nada. Querem me seduzir para as ilusões do consumo e das arrogâncias.
Não existe verdade no mundo da acumulação material e intelectual. Ninguém tem paz na base do quanto mais se tem, mais se quer. A vida verdadeira está depois de tudo isso.
Quero parar de brigar com o que não sei de mim. Quero me desiludir de que a felicidade é a estética, a conta bancária e a inteligência. Quero apenas me entregar ao meu silêncio – e sem qualquer pretensão, questionamento ou julgamento.
Quero aprender a me contemplar no meu vazio – sem ambições e ostentações. Quero me transcender dos meus desejos, fantasias e vaidades.
Não se trata de ignorância. Trata-se de suspender tudo que nunca concluo – e que só me gera ansiedade e medo.
Desisto de insistir. Quero me livrar dessa fadiga do querer. Cansei desse blá-blá-blá sem fim. Quero me encontrar depois do meu prazer, da minha dor, do meu falar, do meu pensar, das minhas preocupações e dos meus receios. Quero suspender todos os meus sentidos, vontades, desejos e ambições. Quero silenciar tudo em mim. Quero experimentar minha paz.
Quero me tomar sem apego as coisas e sem qualquer definição. Quero dar conta de me admirar onde não preciso perguntar por mim e não preciso perguntar pelo que me falta. Quero intimidade com um outro de mim.
Quero ser inteiro no meu inexplicável.
Evaristo Magalhães – Psicanalista