Por que não estamos dando conta da realidade? Não seria porque há algo mais depois da realidade? Não seria porque as ferramentas que temos não servem para lidarmos com o que não sabemos?
Não sabemos de onde viemos e para onde vamos. Não sabemos porque envelhecemos e morremos. Não sabemos o que pode acontecer.
São as ausências que nos tencionam. Não importa o que sabemos. É a falta que nos angustia.
Parece que o vazio vem crescendo mais que as consistências. Quanto maior o enigma, mais angústia e ansiedade.
Escolhemos o entendimento como forma de calmante. Achamos que quanto mais saber, menos desespero.
O problema é quando não conseguimos tocar o estranho com os saberes que temos. O problema é essa sensação de impotência no combate à ignorância. A questão é quando sentimos crescer o pior.
A psicanálise nos convida a escutar isso que não sabemos. Não podemos partir para a agressividade ou para a loucura. Temos que nos reinventar nisso que não somos.
Precisamos mudar nosso jeito de saber quando o que sabemos não está sendo suficiente para clarear nossos obscurantismos.
Não podemos esquecer que as maiores invenções surgiram – exatamente – quando a humanidade se deparou com seus maiores impasses.
A arte é, sem dúvida, o melhor antídoto para os pesos que não estamos suportando carregar.
Precisamos superar o círculo vicioso da repetição pela dor. Precisamos parar de pensar que não há mais o que ser criado. Precisamos superar nossos mitos. Precisamos parar de nos subestimar. Precisamos descobrir nossas possibilidades.
Estamos em um momento de elaborar o novo. Na falta deste, o desespero corre o risco de trazer de volta o pior. Nesse momento, só a arte pode nos salvar.
Evaristo Magalhães – Psicanalista