Deus não fala. O silêncio é o som de Deus.
Penso para controlar. Falo para dominar. Mato Deus quando penso e falo. Mato Deus quando acredito em Deus.
Deus começa onde termina o barulho das palavras. Deus começa onde termina o som da própria palavra Deus. Deus está depois da fé em Deus. Deus está depois de tudo que imagino como sendo Deus.
Deus não é maiúsculo. Deus não tem letra. Deus não tem nada.
Deus sou eu sem mim. Deus sou eu sem o que sei de mim. Deus sou eu sem me existir. Deus sou eu – completamente – desprendido de tudo de mim.
Deus está em todos os lugares porque Deus é sem antes e sem depois. Deus não tem causa porque Deus não tem nome imagem ou corpo. Deus não tem prédio e nem conta bancária. Deus não tem púlpito e nem porta voz.
Só preciso do nada para estar com Deus. Amar a Deus é a minha capacidade de amar o nada. Estar com Deus é a minha capacidade de estar no vazio.
Posso estar com Deus o tempo todo porque posso estar comigo depois de mim.
Só estarei seguro de Deus quando eu estiver seguro de que nada sou.
Deus é invencível porque a arma de Deus é não ser nem mesmo Deus.
Deus me me puxa para o seu silêncio. Deus me fez para terminar comigo em nada.
Vencerá o silêncio que Deus fez de mim.
Deus é quando a missa acaba. Deus é quando o outro vai embora. Deus é quando o outro sequer aparece.
Deus sou eu entregue ao vácuo.
Odiamos Deus com nossas vaidades e discursos. Há quem se desespere com o silêncio de Deus.
Não amamos Deus. Só amamos Deus através de coisas e conceitos.
Deus não tem forma, peso, medida e nem consistência. Deus é tudo o que não imagino, não vejo, não penso, não toco, não falo e não sinto.
Deus está depois de tudo de mim.
Evaristo Magalhães – Psicanalista