Infelizmente, fazemos sempre esperando algo em troca. O que esperamos? Não existe o que esperamos.
Sofremos porque queremos abolir esse nada que nos espera em algum momento.
Esperamos a plenitude, o amor, a certeza de tudo ter, a juventude e a eternidade. Por isso, continuamos tentando e continuamos sofrendo porque não é nada disso que nos espera.
Não apenas compramos o carro, a roupa ou a viagem. Compramos no carro, na roupa e na viagem a certeza de que existimos. Doce ilusão! Não levaremos conosco isso que achamos que somos e temos.
Tudo o que fazemos – por menor que seja – não diz respeito apenas aos nossos objetivos mais imediatos. Tudo o que acumulamos entremeia nossas questões existenciais mais profundas.
Não temos solução. A verdade da vida é o desprendimento. Tudo passará: ideias, sentimentos, crenças, pessoas e coisas.
O certo seria trazer essa certeza do final para o agora.
É por isso que o ideal é fazer e zerar tudo. É fazer e anular o que foi feito. O ideal é fazer e jogar ao vento. O ideal é começar a experimentar – agora – a certeza da solidão de amanhã.
Sofre quem faz pensando em abolir o impossível. Feliz é quem faz sem projetar porque experimenta a verdade do vazio de si que chegará e ficará.
A felicidade é não ter. Ninguém tem. Ninguém terá.
Quem tem sofre por apego. Quem tem sofre pelo medo de perder. Que tem precisa carregar o peso do ter. Isso não é a felicidade. Isso é o próprio inferno.
O certo seria se doar com alegria. Melhor seria se o fizéssemos por livre e espontânea vontade. Infelizmente, parece que só sabemos viver cultivando o sofrimento como companhia.
Evaristo Magalhães – Psicanalista