Precisamos de Deus porque tememos viver. Creio que primeiro inventaram o medo para depois inventarem Deus como antídoto deste.
Alguém inventou que deve ser triste morrer – mesmo que ninguém tenha voltado para dizer dessa tristeza.
O problema do medo é a imprevisibilidade. Não sabemos o que poderá acontecer. A questão é que tendemos achar que não vai acontecer algo bom. É certo que a cada minuto estamos caminhando para o dia em que não teremos mais minuto nenhum. A questão é que focamos mais na certeza da perda que na certeza do que podemos usufruir.
Na verdade, carregamos esse buraco que é intamponável. No entanto, podemos, ao menos, cerzí-lo. Podemos, ao menos, rasurá-lo.
No entanto, ignoramos as alegrias que podemos e nos apegamos às tristezas para justificar nossa busca por uma vida paradisíaca – que sequer estamos certos de que virá.
Podemos tapear o que é triste em nós e não o fazemos. Não o fazemos porque não suportamos carregar nenhuma marca do que nos insuperável. Foi para isso que inventamos Deus. Queremos uma vida completa – e sem defeitos.
Prefiro não pagar para ver. Enquanto nada sei, vou me fazendo criando brechas de prazer sobre o que em mim é inevitável.
Evaristo Magalhães – Psicanalista