Pode não fazer muito sentido, mas se te deixa contente, então, está valendo. Não deveríamos nos deixar guiar só pela lógica. Não deveríamos perguntar só pela vontade da sociedade. Perdemos o contentamento quando ficamos adultos. A criança não está nem aí. A primeira infância é puro contentamento. Qual o contentamento do louco? Qual o contentamento do autista? O contentamento é o que tenho de mais meu. É o que tenho de mais natural e de mais espontâneo em mim. É o que faço sem pensar. É o meu prazer – e sem qualquer meio de controle. É o que vem do meu corpo. É o meu gozo. É o meu tesão – e sem qualquer mediador. A sua verdade é o seu contentamento. Não sou outra coisa que não o meu contentamento. O louco é, talvez, o mais contente de todos os humanos – uma vez que vive a partir de seu próprio contentamento. O louco cria a língua que lhe convém. Só não é contentamento fazer o que se quer – no sentido de se fazer mal. Não podemos usar do contentamento para deixarmos de sermos contentes: isso não é contentamento.
Evaristo Magalhães – Psicanalista