Fútil é quem não pergunta sobre si.
Ao perguntarmos, nos damos conta do quanto somos existencialmente complexos.
Aquele que pergunta sobre si – inevitavelmente – vai concluir que não sabe muito de si. Daí, se dará conta de que só as pessoas interessantes e inteligentes é que deram conta de indagar sobre quem são.
É por isso que quem não se questiona tende a só gostar de coisas imbecis e superficiais – ao contrário de quem é mais introspectivo. Essas tendem a gostar de coisas que as faça mergulhar dentro de si.
Uma pessoa que não-fútil, geralmente, gosta de ler Clarice Lispector, Dostóievski e Mia Couto. Gosta de escutar Caetano Veloso, Elis Regina e Elza Soares. Consegue sustentar uma discussão política, porque sabe diferenciar o ponto de vista de um político de outros.
É por isso que o mundo parece tão idiota. Grande parte da massa acha que felicidade é ter bolsas, sapatos, carrões e mansões. Muitas vivem para suas cirurgias plásticas, academias, anabolizantes, botox, próteses e preenchimentos. Outras acham que vida de verdade é só o que aparece no Instagram e no facebook. A grande maioria – sequer – ouviu falar alguma vez de Woody Allen e Almodóvar. No entanto, ninguém sustenta uma vida inteira só com futilidades. Vamos envelhecer e vamos morrer. E, quanto a isso, nenhum objeto de consumo pode fazer qualquer coisa por nós. Só uma boa literatura, um amor consistente e muito autoconhecimento. Fora isto, não há outro caminho, a não ser se entupir de ansiolítico e antidepressivo para dopar as mazelas da vida.
Evaristo Magalhães – Psicanalista