A sexualidade é que nos move. Na vida, tudo é gozar porque tudo é energia.
Gozamos com o prazer e com a dor.
O grande desafio da Psicanálise sempre foi o de encontrar um jeito de gozarmos só com o prazer. Só os místicos conseguem essa proeza. Nós, ocidentais, optamos por gozar mais concretamente que espiritualmente. Por isso, nunca gozamos – de fato.
Nosso prazer é sempre parcial. Nosso gozo é fugidio. Gozamos para sofrer – porque nosso gozo tem fim. Nosso gozo é passageiro. Por isso, achamos estranho os místicos com seus êxtases infinitos.
Mesmo depois de gozarmos concretamente, deveríamos continuar gozando – ainda que sem nada e sem ninguém. Isto que é gozar por inteiro: viver mergulhado nos prazeres da alma. O gozo espiritual transcende o mundo físico.
O gozo – no dizer de Freud – tem um pé no biológico e outro no espírito. Só sabemos do gozo físico.
Não estendemos de gozar porque só o fazemos com coisas reais. Não estendemos nosso gozo porque dependemos de, ao menos, uma presença.
Isso que sentimos rapidamente, os místicos sentem – vinte e quatro horas por dia – em suas viagens espirituais.
Não há dúvida de que é – também – um grande prazer em gozar com as coisas e com as pessoas. No entanto, na ausência de alguém, não deveríamos sofrer por falta ou por fissura.
Só os místicos sabem gozar na ausência. Se aprendêssemos a gozar sem ninguém, talvez, sofrêssemos menos na falta de alguém para gozar.
Evaristo Magalhães – Psicanalista