Desejamos o completo quando alucinamos em alguém a suposta completude que não somos. Invejamos quando entendemos que o outro é o espelho do que desejamos.
O suposto completo que vemos apenas revela o quão somos incompletos. Em detrimento dessa incompletude, sofremos não pelo que o outro tem, mas pela falta que somos. Em detrimento dessa incompletude, sentimos uma necessidade absurda de tomar do outro o que – supostamente – nos completaria.
Temos que tomar muito cuidado ao vermos quem não somos em alguém. Nunca seremos! Ninguém é!
A inveja é mesquinha para quem a sente e agressiva para quem a sofre. Por que? Porque a inveja é um sentimento de extremos: quem a sente desfaz de si e quem a sofre pode ser roubado do que de si seria a completude do outro.
Existe saída? Sim. Falta ao invejoso a capacidade de cingir a sua falta. Ou seja, falta a ele a desenvoltura para coser seu furo até que seu furo passe a existir apenas para si.
Todo invejoso não suporta viver do que lhe falta minimamente. Todo invejo sofre de uma incapacidade crônica de valorizar suas qualidades.
A questão do invejoso é a sua impotência para se aceitar incompleto. Pobre de quem ele elege como sendo sua metade. Ele é um esquecido de que nunca será completo – tanto que sua incompletude retorna logo que ele rouba o que imaginara como sendo completo para si.
A questão não é conceber a vida como completa ou não . A questão é ser capaz de reconhecer alguma completude em si – mesmo não se podendo ter tudo.
A questão é a capacidade de amar o que lhe falta na mesma medida do que lhe completa.
Evaristo Magalhães – Psicanalista