Qualquer reação é de gozo. Gozamos direto com a coisa ou camuflando a coisa. Amar é gozar. Temer amar – também – é gozar. Perder é gozar. Ao perdermos não temos outra alternativa senão gozar com a perda.
É certo que vamos perder. Nenhum amor é para sempre. Há quem se entregue. Há quem desista. A maioria passa a vida toda gozando da dor de perder. Tanto que mais pessoas sofrem por amor que se matam por amor. Usamos nossas desavenças amorosas para retardarmos o nosso grande e doloroso orgasmo final.
Muitos tomam como prova de amor temer a perda. Muitos até enxergam certa nobreza quando alguém chora nas despedidas. Não é nada disso. Não devemos nos envaidecer como se a dor fosse por amor. Não é. Ninguém é neutro do que faz por.
A angústia pela sua ausência não é por quem partiu. A dor é de quem a sente. Reagimos mais por nós que pelo outro. O amor não está separado do que nos perturba. Todo mundo se descarrega no amor. Anda bem que temos o amor para descarregar coisas que não são do amor. Talvez, pudéssemos fazer o pior.
Ninguém sofre por amor. Não se culpe pela dor de quem ficou. Todo mundo necessita da dor. Sofremos é por amor a nós mesmos. Todo amor é – também – uma forma de masoquismo. Tanto que não existe amor perfeito.
Evaristo Magalhães – Psicanalista