Escutar não é ouvir. Não escutamos o outro. Escutamos o que o outro diz.
Escutamos o sentido. Daí, adentramos em um buraco sem fim.
É impossível ter cem por cento de clareza sobre qualquer coisa. É por isso que brigamos, angustiamos e ficamos ansiosos.
Queremos o outro pelo que ele diz e não pelo que ele sente.
Comemos amedrontados pelo teor calórico da comida. Há um sabor que é puro prazer. Pode acontecer de esquecermos o prazer de comer e só focarmos na vilania do alimento.
Amamos temerosos de perder. Contemplamos a natureza questionando sobre origem da vida.
Queremos entender a falta.
Buscamos o sossego e ao mesmo tempo nos torturamos.
Há algo no outro sem duplo sentido. Há – por exemplo – a beleza e a harmonia de seu timbre.
Em tudo há algo de completo para ser usufruído com plenitude.
Estamos tão preocupados com o sentido que esquecemos de saborear, cheirar, tocar e sentir.
Somos tão racionais que estamos perdendo a beleza natural de viver.
Não sofreríamos tanto se sentíssemos mais e pensássemos menos.
O pensar é infinito. O sentir é único.
Sou quando sinto. Nunca sou quando penso.
Evaristo Magalhães – Psicanalista