Não fomos ensinados a lidar com o pior. Nesse sentido, nos fizeram muito mal os filmes, as novelas e as histórias de amor. Não estamos preparados para viver o mundo real.
Não há dúvida de que estamos mais individualistas e mais agressivos. Haja visto a quantidade de notícias e vídeos violentos circulando nas mídias e nas redes sociais.
No entanto, ainda seguimos utilizando as armas que temos para lidarmos com um mundo que não é mais o mesmo. Ainda somos românticos demais. É no encontro do que somos com o que temos que nos deparamos com a desilusão de viver. Daí, caímos na angústia, na depressão e na melancolia.
Quantos não estão desistindo agora?! Como nossas defesas não funcionam mais, estamos, ao invés de um enfrentamento, nos entregando a esse abismo de morte. Nos consultórios de psicanálise, quando, em nosso silêncio, colocamos o sujeito diante desta realidade nua e crua, sua tendência é a de achar que estamos achando que não tem jeito mesmo.
O fato é que os sujeitos que nos procuram, estão todos meio que devastados em seus psiquismos. Tanto que muitos, sempre se colocam na posição de quem devora quem – posição, por sinal, muito presente nas relações amorosas do nosso tempo. O certo não seria quem devora quem e, sim, quem mutila quem – no sentido de que ninguém é tudo para ninguém.
Viver não é devorar o outro. Viver é mutilar e ser mutilado pelo outro – no sentido de que ninguém está no mundo para fazer todas as nossas vontades. Viver assim é coisa de um romantismo barato que não existe mais. Viver é saber lidar com a falta que o outro não é capaz de suprir em mim. Viver é – também – saber lidar com as mutilações do outro em mim.
Evaristo Magalhães – Psicanalista