É por isso que gosto dos poetas. A poesia ama o amor e o desamor. Abandonei as filosofias e as ciências porque são assépticas demais. Não gosto de ser enganado. Não acredito em exatidão. Não gosto dos conceitos. Não levo muito a sério o sentido das palavras.
Não ama quem só ama o amor. Não sabe de si quem só ama o amor. Amar só o amor é fuga da realidade. É tão equivocado viver só de tristeza quanto é tão equivocado viver só de alegria.
O problema foi que inventamos a palavra amor. Criamos o desamor quando inventamos o amor. Criamos o amor e nunca mais quisemos saber do desamor. Criamos o amor como se fosse possível deixar o desamor para fora.
Criamos uma ilusão como sendo a verdade e inventamos a loucura, o destempero e a agressividade. É mais certo que seremos desamados – e que não conseguiremos cobrir esse desamor.
Há perdas irreversíveis. Teremos que carregar esse desamores: queiramos ou não. Teremos que inventar sobre eles – uma vez que são insuperáveis.
Como amarmos o desamor sem parecermos masoquistas? Eis o nosso maior desafio. O que não dá é para continuar – em pleno século XXI – levando a vida como se fosse um conto de fadas.
Evaristo Magalhães – Psicanalista