Por que achamos que o melhor do amor é entender o outro? Por que achamos que a realização amorosa está em localizar alguém?
Há algo bem mais interessante do que só se ocupar de compreender o que o outro diz.
Não é pela palavra que conhecemos as pessoas. Não há um consenso universal acerca do sentido de nada.
Não atente-se ao blá blá. Ninguém é o que diz.
O melhor não é o sentido: o melhor é a energia da fala e o calor do dito. O melhor não é o enunciado e, sim, a enunciação.
Ao invés do sentido, prefiro a sonoridade. Gosto de observar a respiração, a tonalidade, os graves, médios e agudos, as vibrações e a trepidação de alguém quando fala.
Ao ouvir, imagino o sangue pulsando na musculatura. Deliro com um sussurro. Interessa-me a sensualidade de uma voz rouca. Piro com uma voz baixa e calma. Gosto do afeto que faz a ressoar o som, o olhar e o movimento dos lábios.
Tento me ocupar menos de entender e mais de sentir. Não há duplo sentido no corpo que fala. A voz é a verdade de cada um. Ninguém fala igual. A voz não mente, a palavra sim.
Adoro emudecer a tela para sentir tudo do ator Brad Pitt no filme Bastardos Inglórios.
Evaristo Magalhães – Psicanalista