Amamos saber e odiamos não saber. Criamos as trevas para a ignorância e a luz para a sabedoria. Idolatramos os filósofos, os cientistas e os teólogos. Condenamos os analfabetos, os idiotas e os imbecis.
Ocorre que tudo o que construímos como inteligência, até hoje, ainda não deu conta de responder as nossas questões mais cruciais.
No entanto, não desistimos de pensar e de pesquisar. Ou seja, cremos que saberemos quem somos pela via do intelecto.
Será que chegaremos à última palavra de tudo? Será que de causa em causa chegaremos em uma causa sem causa? Quantos não estão agora atormentados pelo breu e iludidos pela luz da razão? Será que não seria a hora de enxergarmos a escuridão com outros olhos? Não seria o momento de escutarmos o silêncio com a mesma naturalidade com que escutamos os sons que nos confortam? Não seria o momento de assumirmos – com humildade – que somos – talvez – mais idiotia, imbecilidade e ignorância que sabedoria e inteligência?
Penso que não somos opostos. Muito pelo contrário, penso que somos múltiplos e contraditórios – sem fazer contrapontos, julgamentos, hierarquizações ou assepsias. É por isso que prefiro as artes. Tudo cabe no verso de um poema. Nada regra os traços de um pintor. Um ator pode ser tudo no palco. A arte é a verdade da vida.
Evaristo Magalhães – Psicanalista