Crio fantasmas quando saio de mim. Saio do meu agora quando espero que alguém goste desse texto. Contaminamos o hoje com o que fizemos ontem.
Sempre poderia ter sido melhor. Nossos medos de ontem revelam o quanto temos de baixo-estima para hoje. Nossos fantasmas de amanhã revelam o quanto hoje nos achamos fracassados.
Sempre estamos trazendo o que não foi ou o que será para o que está sendo.
Nunca somos só isso. Há sempre algo mais de antes ou de depois interferindo em nosso agora.
Não é hora só de dormir. É hora de dormir e de preocupar. É hora de comer e de reclamar do que falta para ficar mais apetitoso. É hora de amar e de questionar se está amando ou de querer estender esse amor para o resto da vida.
Vivemos de fantasmas. Sempre achamos que podemos fazer o nosso agora ficar melhor depois. Sempre estamos lá na frente do nosso aqui. Ou seja, nosso depois nunca é. Nosso agora é sempre o depois de depois de amanhã.
Criamos fantasmas para viver. Vivemos de querer viver. Ou seja, nunca vivemos!
Já saímos preocupados. Estamos criando agora os fantasmas de daqui a pouco e da próxima década.
Somos nosso próprio inferno.
É assustador como contaminamos nosso presente com doenças, acidentes e perdas. Curioso é que fizemos isso ontem e nada disso aconteceu hoje.
Estamos fazendo agora para amanhã o que provavelmente será um dia normal como qualquer outro.
Nunca somos generosos com a vida que temos. Somos vaidosos demais. Sempre achamos que podemos vencer o invencível. Sempre mais e mais. Cremos em um depois do depois. Doce ilusão! Esse depois nunca será.
Ser é agora – ou nunca!
Evaristo Magalhães – Psicanalista