Minha verdade não é interpretável. Sou o que não tem nome. O que não fala em mim é muito mais minha verdade que o que penso de mim.
Sou meus movimentos involuntários. Sou os barulhos que não comando em mim. Sou meus batimentos cardíacos, minha pulsação e minha respiração.
Sou quando me toco sem intenção. Sou na minha espontaneidade. Sou tudo o que está acontecendo em mim e que não sei. Sou meus sons sem sentido.
Jamais saberei quem sou porque só sou – exatamente – quando não sei.
Sou dois: um com palavras e outro que nenhuma palavra toca. Não sou eu esse que de quando me explico.
O que tem haver meu nome comigo? Eu poderia ser qualquer palavra.
Esse meu eu falado é um eu inventado. Não devo atentar a mim. Não devo prestar atenção em mim. Sou quando não tenho memória de mim.
Sou o que em mim é como é.
Onde sou é sem teoria, sem angústia e sem conflito.
Sou depois do que digo de mim. Sou quando não sei de mim. Minto pra mim quando acho que sei quem sou. Sou quando só me observo – sem qualquer leitura. Sou quando só me acompanho. Sou quando só me contemplo. Sou só quando venho de mim e não me volto pra mim.
Sofro quando me nego, me desrespeito e me julgo. Sofro quando não me deixo livre no que tenho de mais meu. Sou quando me encontro no meu nada.
Evaristo Magalhães – Psicanalista