Acho curiosa a diferença que as pessoas fazem entre pensar, sentir e fazer. Não seria gay o homem que pensa em outro homem. Não seria gay o homem que deseja outro homem. Só seria gay aquele homem que fosse para a cama com o outro homem. Neste caso, não seria traição desejar a mulher do amigo. Só seria traição transar com ela.
Ocorre que pensar ou negar que está pensando é – também – uma forma de gozar. Podemos passar a vida toda gozando de pensar ou passar a vida toda gozando de negar que estamos pensando. Também, podemos passar a vida toda gozando de negar que estamos vendo ou que estamos sentindo.
Os homofóbicos gozam de negar que estão pensando e vendo. Por isso querem execrar aqueles que lhes servem de espelhos. Na verdade, querem é execrar quem são – execrando os outros.
É por isso que quanto mais gays saindo do armário, maior o desespero dos que se negam gays. Estes, não se assumem, mas o são gozando da negação de que são.
Não seria melhor se todos vivessem como pensam e sentem? É neste sentido, que entendo que os homofóbicos são gays – uma vez que seus desejos ficam perceptíveis na forma como são negados nos outros.
Deveríamos ser livres para viver de acordo com o que sentimos – exceção para aqueles violentos e para os que fogem ao livre consentimento em suas práticas.
O desejo homoafetivo pode e deve ser livre. Afinal, não é de amor que estamos tratando? E quem disse que amar é crime?
Evaristo Magalhães – Psicanalista