A vida seria muito melhor se fosse vivida sob a ótica da poesia e não sob a ótica da ciência.
A poesia busca o infinito. A ciência busca o exato porque não admite o contraditório.
No entanto, não existe vida sem dor, bem como, vida sem prazer. Viver não é oito ou oitenta. Não é só isso ou só aquilo. Não existe felicidade pura. Ninguém é cem por cento nada. Ninguém é – plenamente – equilibrado.
A vida é mais poesia que matemática.
A vida é engraçada – exatamente – porque é irregular e inconstante. Hoje posso amar mais e amanhã menos. Mente quem se diz – o tempo todo – alegre.
Na vida – como na poesia – todas as contradições são possíveis. Agora, estou bem e, mais tarde, posso não estar.
Meus dramas, queixas e sintomas não deveriam ser patologizados – mesmo porque não existe vida isenta de alguma infelicidade.
Todo dor é para suprimir outra. Nesse sentido, doer é uma criação poética. A vida seria muita chata se fôssemos só felizes. Doer faz parte.
A questão é a forma como enxergamos o sofrimento. Penso que já passou da hora de encararmos o real de viver. Viver é onde todas as oposições são possíveis. Não retire a poesia do viver de ninguém. Não julgue a capacidade de invenção do outro.
O drama de viver é singular. Todo mundo sabe a dor e a delicia de ser o que é. A vida perderia todo o seu sentido se fosse reduzida a um.
Evaristo Magalhães – Psicanalista